Capítulo 7.


               Cap. 7: "V for Victoria"

               Casa, pode se designar à algum lugar em que se sente bem, o lugar em que se relaxa ou o lugar para onde se quer voltar no fim do dia. Porém no final do século XXI “casa” era usada para se referir ao lugar onde você mora ou apenas passa a noite, parou de ser um lugar agradável há muito tempo.

               - “Home, sweet home”? – disse “Ela” – isso lhe parece um lugar doce? Ou um lugar para se chamar de casa?

               A garota se levantou, era alguns centímetros mais baixa que Klaus. Aos seus pés, se esquentava um gato. Com movimentos suaves ele se espreguiçava se esfregando em suas pernas, como se estivesse bootando. O gato por poucos segundos atraiu a atenção de Klaus, que logo se voltou para a garota novamente.

               Entre fios castanhos levemente rosados e o capuz de seu moletom grande demais para ela, pode se ver um rosto delicado, fino, de feições gentis, embora assustadoramente pálida, pequenas sardas em suas bochechas mostravam vida em um pequeno rosto amável.

               - Eu encontrei ele na rua – disse a garota olhando meiga para o gato.

               O gato era preto como a noite, seus lindos olhos verdes cintilavam com a meia luz do decadente apartamento. Embora esplendida, a beleza daquele lindo felino não afetava Klaus, talvez não se comparava com a garota em sua frente. Ainda perdido em seus pensamentos, pensamentos distantes, ele permanece em silêncio, forçando todas as conexões em seu cérebro em uma tentativa de reconhecer aquela voz.

               - Vai ficar aí só olhando, Klaus? Eu vim porque estava preocupada. O que aconteceu com você? – ela esbraveja, fechando os punhos e balançando-os rente ao corpo, quase batendo os pés no chão exigindo uma resposta.

               Sem sequer ouvir, ou ao menos compreender uma palavra dita, ele continua a observando, seus lábios vermelhos, delicados e finos, machucados pelo frio que fazia na cidade, ou seria por causa da baixa umidade hoje? Completamente perdido em seus pensamentos, ele tentava voltar, seguindo seus lábios como um guia, sua audição estava abafada, suas orelhas ocupadas ouvindo suas músicas de sua playlist, “I wanna be yours”. Seus olhos, ainda meio perdidos, fitavam os vermelhos lábios da garota. Um pequeno movimento com a boca, deduziu a letra “i”, seguido de um movimento parecido, porém mostrando mais os dentes, provavelmente um “Di”, abrindo bem a boca, algo que pareceu à Klaus um “ó”, por fim como se abrisse um pequeno sorriso, porém parando na metade, se presumiu um “tá”

               - Idiota! – ela gritava chegando mais perto – é por isso que não nos encontramos pessoalmente, você é um idiota! Está fazendo o que fez da última vez, de novo?!

               Como se com um estalo, Klaus sai de seu transe, abismado.

               - D-de novo? - ele gagueja com espanto – nós nos conhecemos?

               - O que faço com ele, hein, Lestrade? – a garota, colocando as mãos na cintura inclina seu corpo, desviando de Klaus à sua frente e olhando para a figura decadente fumando logo ao batente da porta, ele deu de ombros, mas deixou escapar um sorriso de canto de boca, debochado, sarcástico, em meio à uma baforada que cobre seu rosto de fumaça.

               Ela olhou no fundo dos negros olhos de Klaus, quase sem vida, porém reluziam como ônix, escuros como tal rocha. Olhando para baixo e deixando escapar um sorriso bobo, ela vira para o lado, escondendo seu rosto atrás de seu curto cabelo rosado, que ia até um pouco abaixo do queixo.

               - Fico feliz de ver que você está bem – ela disse ainda evitando contado visual.

O corpo de Klaus ficou quente, e ele, sem reação. Ela levou sua mão à nuca, ainda com um delicado sorriso.

               - Sabe quem eu sou, não é? – ela finalmente se virou, porém com um olhar não muito feliz.

               - Eu... – Klaus não conseguia dizer muita coisa.

               Sua voz calma e melodiosa não lhe era estranha. Em algum lugar fundo da memória talvez Klaus achasse algo sobre, porém ele não se recordava de imediato.

               - Sou eu, Victoria - disse "ela", pausadamente - acho que meu microfone não é tão bom, talvez pela internet minha voz seja um pouco diferente...

               Um nome tão belo à Klaus, seus fonemas fluíam pelo ar formando uma melodia graças a sua doce voz. Além de sua beleza harmônica, esse nome despertava lembranças na caótica cabeça do rapaz, entre os choques elétricos de suas sinapses, um estalo lhe ocorre.

               - Vi?! - em seu rosto surgiu uma cara de espanto, enquanto as batidas de seu coração aceleravam - eu esperei tanto pra te conhecer... - envergonhado, Klaus leva sua mão à nuca novamente enquanto desvia o olhar.

               Victoria se inclina de braços cruzados e olha para Lestrade, parado ao batente da porta, apoiando um pé na parede enquanto fazia uma concha com a mão para ligar o isqueiro eletrônico para acender o cigarro em sua boca. Ele tarda em reparar o olhar de Victoria, enquanto Klaus, sem graça, pensa em algo para dizer. Em uma rápida desviada de olho, Lestrade nota o encarar da garota, e tem sua atenção desejada.

               - Você não contou a ele ainda, e é óbvio que ele não percebeu - disse a menina insatisfeita com o oficial.

               Com o cigarro no canto da boca, balançando graças ao movimento de espanto do rosto de Lestrade. Ele franziu a testa.

               - Eu estou trabalhando nisso, é um assunto - Lestrade hesita por alguns segundos - complicado...

               - Vão conversar sobre mim enquanto eu estou aqui? - disse Klaus mudando completamente seu comportamento após ouvir a áspera voz de Lestrade.

               Victoria segura no casaco vermelho de Klaus, olha para baixo, se preparando para más notícias. Ela engole em seco e aperta levemente o casaco, até puxando-o um pouco mais para perto, balançando as pernas e mexendo seus All Stars de um lado para o outro.

               - Klaus... - disse Victoria, com toda sua ternura – tem muita coisa que eu gostaria de falar com você, mas... Temos uma coisa importante pra conversar.

Comentários