Capítulo 6.


Cap. 6: "Ela"
Lestrade saiu do banheiro. Mãos molhadas. Fora sua primeira experiência com um assassinato, ou melhor, aposentadoria de um ser artificial oficialmente vivo. O Android da recepção não tem reação, está quase desligado, todos os sistemas estavam integrados com Bill. Uma morte não física através de uma bala, porém na ausência de um botão “liga-desliga”, foi a forma de enviar o comando ao computador para que se desligasse. Uma inteligência artificial que aceitou a própria morte... 
Klaus apenas observava enquanto Lestrade desligava todos diversos os geradores, abaixava todas as chaves de força, fazia upload de todos os PCs para o relatório. Ao fim, saindo do prédio da Microhard empresa qual já estava ciente, e concordava, com a ação do oficial, Les fecha as portas e cola um folheto na mesma. O tempo todo o adolescente, inquieto como só eles, sentou-se em um dos avermelhados degraus brancos, sujos de poeira vermelha, e continuou com seus tiques e inquietações, bater os pés, roer unhas e brincar com um isqueiro que levava em sua bolsa. 
- Eu não gosto do seu trabalho – disse ele, sem tirar o olhar fixo ao nada. 
- Eu também não gosto, se é isso que quer saber – respondeu o oficial apagando um cigarro na sola de sua bota, já tirando o maço do bolso e apanhando mais um cigarro. 
- Pode por favor parar de fumar essa merda? Pelo menos perto de mim, obrigado. 
Com uma cara de surpresa durante alguns segundos, Victor ouviu as palavras do garoto e as obedeceu, apenas quando viu que ele usava um lenço no pescoço cobrindo até o nariz. 
- Qual aquela sua frase que sempre diz sobre o cigarro? – indaga Klaus. 
O cigarro mata lentamente, e eu não estou com pressa – responde Les com um ar frio e seco, assim como o clima. 
- E por que não se concentra em viver então, homem?  
Como já era rotina, o silêncio reinou e o clima se tornou denso na conversa entre Klaus e Victor. O inspetor pegou um cantil com água ou qualquer bebida alcoólica transparente e colocou um pouco em sua mão. Esfregou-as fortemente, com uma cara de incômodo que nunca se dissipa.  
Me diz qual é dessa sua mania, Les, lavar o sangue lavado de suas mãos. Não importa quanto você as lave, não se pode lavar o passado. 
Em uma falha tentativa de se manter calmo e não perder o controle, Victor levou as mãos molhadas ao rosto, ele contava até dez. 
- É apenas mania de limpeza – continuou ele – ou apenas tenta lavar-se de algo? 
- Ela quer te ver – interrompeu Lestrade, não ligando para Klaus, ou apenas se contendo – ela não estava muito afim de te ver, mas sabe como garotas mudam de ideia. Ela não me respondia, então decidi que hoje seria o dia de levar o pirralho irritante pro trabalho. 
“Ela?” Se perguntava Klaus. 
- “Ela”? – perguntou Klaus. 
- Não haja como se eu não soubesse, mas não significa que eu aprovo este encontro. 
- Eu... - olhando para baixo, ele hesitou – Eu realmente não sei quem é “ela”. 


Viagens de carro não são empolgantes, dirigir já não é mais empolgante, Lestrade não acha empolgante. Atravessando o caos de Vegas, estão de volta ao apartamento em que Klaus se refugia.  
Poeira. Com olhos aguçados, o primeiro sinal de invasão percebido, poeira no capacho. Em uma cidade logo ao lado de um deserto, muita poeira é soprada para dentro dos cansados olhos de escravos da sociedade, e também, claro, para suas dentro casas. Porém Klaus sempre tira as botas antes de pisar no capacho, ele jamais estaria sujo.  
Gordura nos corrimões, ele sobe as escadarias sem tocar nos corrimões, tem equilíbrio suficiente para isso.  
Pelos. Negros fios cintilam com a luz ou contrastam com o chão cinza, que um dia já foi branco. 
Embora soubesse da presença de alguém, não se preocupava, Lestrade seguia atrás, empunhando uma pistola, mas a segurança de Klaus não vinha de seu acompanhante, era um raciocínio muito mais simples. 
Apartamento 221b. Klaus abriu a porta, apenas olhou, Lestrade ainda olhava todos os cantos, preocupado, apenas seu estado normal de vigilha, porém Klaus apenas olhava.  
Uma garota, estatura média, de costas no meio da sala, abaixada e olhando para baixo. Klaus inspirou fundo, encheu os pulmões.  
- “Home sweet home, me home” – disse Klaus, depois pigarreou. 
A menina olhou para o lado, sem se virar, o capuz de seu moletom não permitiu que seu belo rosto fosse visto. Parado na porta, imóvel, pois algo havia acontecido com seu olhar, algo que mexia com seus pensamentos, sua lógica. 
Tentou checar o estado do cômodo, porém não tinha foco, seus olhos se voltavam para o mesmo lugar. Observou o sofá, ou tentou, algum objeto na mesa, já não conseguia, algo passando na tela do PC da sala? Não viu. Apenas... 
- “Ela”. 

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